sábado, 6 de novembro de 2010

Virtudes Cristãs



Virtude, do latim virtus, virtute, virtutis, de vir, viril, força, vigor; do grego, ρετή, arèté, arete, força; designa toda excelência própria de uma coisa, em todas as ordens de realidade e em todos os domínios. Segundo os dicionários, uma disposição constante, habitual ou firme da alma que levam o homem a praticar o bem ou a evitar o mal, equivalendo a uma força moral; Virtude é o conjunto de todas ou qualquer das boas qualidades morais; uma ação virtuosa; austeridade no viver; qualidade própria para produzir certos e determinados resultados; propriedade, eficácia; validade, força, vigor. A virtude caracteriza-se pela héxis ou habitus, que significa uma disposição para viver a virtude: é definida como uma maneira de ser adquirida. O latim traduziu héxis por habitus. A virtude só será héxis ou habitus se for retirado desse termo o caráter de disposição permanente e costumeira, mecânica, automática.  Outra característica da virtude e a mediedade (mésotès), estar no meio, no equilíbrio; termo que remete ao termo médio de um silogismo e também à média ou medida, ou ao meio termo, que caracteriza a virtude. A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem. “O fim de uma vida virtuosa consiste em se tornar semelhante a Deus”, como escreveu Gregório de Nissa. Há virtudes sobrenaturais e virtudes humanas. Na Igreja Católica, a partir das Escrituras, e por antiga tradição patrística, a teologia distingue as virtudes sobrenaturais, que incluem as virtudes teologais e cardeais; e as virtudes humanas.
Virtude é uma disposição estável e firme em ordem a praticar o bem. A virtude revela mais do que uma simples potencialidade ou uma aptidão para uma determinada ação boa: trata-se de uma inclinação. Virtudes são todos os hábitos constantes que levam para o bem, quer pessoalmente, quer coletivamente. É uma disposição constante e habitual que leva a praticar o bem e evitar o mal. Denomina-se virtude o hábito operativo bom e vício o hábito operativo mau. Hábito é ação voluntária e livre que se repete conscientemente.
Na Igreja Primitiva, desde a Antiguidade cristã e até os nossos dias atuais, com base nas Escrituras e no conhecimento filosófico, as virtudes foram aprofundadas pelos Padres da Igreja e pelos místicos de forma impressionante e profunda. Essa busca pelo conhecimento das virtudes continua sendo uma fonte inesgotável de força para quem vive a espiritualidade e o desejo de crescimento no seguimento de Jesus. Antes mesmo do cristianismo, filósofos gregos e romanos estudaram e elucidaram quanto possível as virtudes, especialmente as que chamamos de virtudes cardeais. E ainda antes dos filósofos gregos e romanos da antiguidade conduzirem um estudo mais intelectual e prático, a mitologia grega e romana, assim como a egípcia, babilônica, persa, ou de outros povos relacionados com a tradição bíblica, já nomeavam e caracterizaram seus “deuses” com idéias estruturais arquetípicas primordiais da psicologia humana, que hoje quando comparados com o conhecimento da psique (alma), podem ser diretamente relacionados com muitas das virtudes humanas morais ou intelectuais.
Cristãos partiram de premissas desses estudos filosóficos e mitológicos, tendo acima de tudo fundamentado nas Escrituras Sagradas o seu empenho de conhecimento das virtudes, de maneira mística e ascética, espiritual e prática; classificaram todas as demais virtudes humanas, intelectuais e morais cristãs de diferentes formas, segundo as diferentes escolas de espiritualidade dentro da Igreja nos seqüentes períodos da história. As escolas de espiritualidade mais consistentes na Igreja, como por exemplo, a bíblica, a patrística, a medieval e a moderna, com tantas manifestações ou vertentes específicas particulares, elaboraram verdadeiros tratados sobre as virtudes e lançaram uma viva iluminação sobre os conceitos e a etimologia, a origem, as fontes, métodos, excelência, necessidade e divisão das virtudes, tanto no aspecto místico como prático.
As virtudes humanas adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma perseverança sempre retomada com esforço, além de ajudar profundamente na integração psicológica profunda, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com o auxílio de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem. A pessoa virtuosa sente-se feliz em praticar as virtudes; sente-se também desejosa de conhecer sempre mais os meios e as capacitações necessárias para a prática delas. Não é fácil para a pessoa humana ferida pelo pecado manter o equilíbrio moral e psíquico. O dom da salvação trazida por Jesus concede a graça necessária para perseverar na conquista das virtudes. Cada um deve sempre pedir esta graça, recorrer aos sacramentos, cooperar com o Espírito Santo, seguir apelos de Deus de amar o bem e evitar o mal.
As virtudes, como disposições habituais, revestem a natureza de quem opera ou age, de tal modo que imprime na pessoa uma força. Disso vem o termo virtude, que realiza melhor a perfeição que existe na natureza e torna melhor a operação de quem a possui. Por isso, a virtude torna melhor quem a possui e dispõe quem a possui para a boa operação. Mas o mesmo se diz do vício que, sendo um hábito mau, imprime na natureza de quem o possui uma má disposição, enquanto lhe priva de algum bem ou perfeição natural. Este hábito é de difícil remoção e cada vez mais pela força que adquire dificulta e até impossibilita a realização ou a aquisição de algum bem ou perfeição natural próprio ou que lhe convenha. Este hábito porque opera contra a natureza é antinatural. E porque este hábito se realiza mediante algum ato ou operação, diz-se que sua repetição torna pior o ato e, por sua vez, a natureza de quem possui este hábito mau.
A virtude aperfeiçoa quem a possui. De qualquer maneira, é mais fácil adquirir um hábito bom do que remover um hábito mau, justamente por causa da influência das paixões sobre o que é voluntário; e isso se confirma ao constatarmos que as paixões são iminentes e muito dependentes frente àquilo que as experiências sensíveis, rotineiramente, nelas causam inclinação ou aversão. São propriedades das virtudes: ser o justo meio termo entre o excesso e a deficiência; tornar a ação fácil e deleitável; relacionar-se com outras virtudes e com o fim último e não se verter em mal. As virtudes morais são adquiridas pela repetição dos atos. Regra que, também, vale e se aplica aos vícios. Neste sentido temos: o ato repetido gera o hábito e o hábito, segundo o bem ou o mal, gera ou a virtude ou o vício. E porque a ação humana pode ser a nível especulativo ou prático, há, por isso, os hábitos especulativos e os práticos e, do mesmo modo, as virtudes e os vícios especulativos e práticos.
Como regra geral, a importância das virtudes está em que elas tornam bom aquele que as possui e boa a obra que essa pessoa faz. O aspecto prático das virtudes nos aponta que além do aspecto teórico da sua conceituação, estritamente conexo com o sistema filosófico no qual se enquadra, a ética apresenta um aspecto prático de vivo e permanente interesse e necessidade: como formar e desenvolver as virtudes, para que nossa vida cristã seja verdadeiramente um testemunho vivo dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Classificação das virtudes

As virtudes teologais são sobrenaturais e infusas: fé, esperança e caridade/amor.
As virtudes cardeais são gonzos nas quais se estabelecem todas as outras virtudes morais (naturais ou infusas) ou intelectuais (naturais ou infusas). As virtudes cardeais dão origem a muitas ramificações e visam diretamente à participação na vida de Deus, ou a um bem sobrenatural criado, como por exemplo, o domínio das paixões, e preparam a visão beatífica. Correspondem a todas as necessidades da alma e aperfeiçoam todas as suas qualidades morais e intelectuais. São estas as virtudes cardeais: a prudência, que é virtude racional por essência e se dispõe a aperfeiçoar a razão; a justiça, que é racional por participação e dispõe ordenar a vontade; a fortaleza, que modera o impulso sensitivo irascível; e a temperança, que modera o impulso sensitivo concupiscível.
Todas as virtudes humanas, efetivamente, dependem diretamente das virtudes teologais, além de estar ligadas diretamente também a uma das virtudes cardeais. Todas as virtudes morais se dividem ou inserem aproximativamente por afinidade, dentro do âmbito de uma das quatro virtudes cardeais, por favorecer essa virtude ou dela depender, sendo que sobre estas quatro cardeais se fundam todas as demais virtudes cristãs; e todas as virtudes humanas interdependem umas das outras. Não se pode praticar ou viver uma virtude, sem que despertem todas as outras; e não se fere uma virtude, sem que as outras sejam atingidas também.
Todas as virtudes humanas se dividem também em virtudes morais (naturais ou infusas) e em virtudes intelectuais (naturais ou infusas). As virtudes morais, pelo hábito dos princípios da razão prática, adquirem ou realizam algum bem ou perfeição da vontade e dos apetites sensíveis que são: concupiscível e irascível; as virtudes intelectuais, pelo hábito dos princípios da razão teórica, adquirem ou realizam algum bem ou perfeição do intelecto. As virtudes intelectuais se dividem em especulativas e práticas. A virtude intelectual especulativa inclina o intelecto perfeitamente para a verdade universal. O intelecto, hábito dos primeiros princípios especulativos, orienta a pessoa para a verdade, evitando o erro e o engano. A sindéresis, verdade absoluta, como capacidade da pessoa de entender retamente as coisas, hábito dos primeiros princípios práticos, inclina para a busca do bem, justamente na medida em que evita o mal. A sabedoria, como hábito de considerar a realidade por sua causalidade última, na medida que não procura o conhecimento das coisas por si mesmas, mas por aquilo que elas indicam para além de si mesmas, transcende o intelecto e a sidéresis. A virtude intelectual prática inclina o intelecto para o reto juízo, aqui e agora, acerca da ação particular. São virtudes intelectuais práticas a arte, a reta razão do fazer; e a prudência, a reta razão do agir.
Os sete pecados capitais, como tendências e impulsos que podem levar a pessoa ao pecado grave, chamados assim porque são fonte e cabeça (cápite, em latim) de muitos pecados, precisam ser enfrentados, contrariados, opostos e vencidos. Para isso existe também outro tipo de organização das virtudes, que é baseada nas chamadas sete virtudes capitais. Para cada pecado capital existe uma virtude de poderosa capacitação no processo de vencer o pecado dominante: soberba/orgulho: humildade; avareza: generosidade; luxúria: castidade; ira: paciência; gula: temperança; inveja: caridade/amor; preguiça: operosidade. Para vencer todas as tentações humanas temos sempre o auxílio das virtudes, segundo cada circunstância.
 Além destas, muitas outras virtudes são englobadas por determinados enfoques. Um exemplo seriam os dons e frutos do Espírito Santo, que são também e ao mesmo tempo virtudes; quanto mais aprofundados à luz das Escrituras Sagradas, mais podem iluminar e orientar a vida dos cristãos. Outros exemplos seriam as bem-aventuranças (pobreza, sofrimento, mansidão, fome de justiça, misericórdia, pacificidade, sofrimento por causa da perseguição), e os conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência), que podem ser aprofundados também como virtudes profundamente essenciais para a vida mais conforme aos próprios ensinamentos de Jesus. Existem também outras bem-aventuranças bíblicas que são puras virtudes. As obras de misericórdia, tanto corporais como espirituais, estão revestidas profundamente da caridade/amor, e pedem consigo todas as demais virtudes. Junto a cada um dos Mandamentos de Deus ou aos Preceitos da Igreja está também uma ou mais virtudes anexas, para corroborar e sustentar o mandamento e o seu cumprimento no amor. Os próprios Sacramentos nos lembram e tornam atuante a graça santificante em nossa existência nas diversas fases da vida, fazendo desabrochar as potencialidades e as disposições das virtudes que farão florescer plenamente a graça dos próprios Sacramentos. A própria natureza da vida cristã, a inabitação da Santíssima Trindade, o relacionamento com Jesus, com o Pai e com o Espírito, com Maria, com os Anjos, com as Santas e com Santos da Igreja, nos oferece uma perspectiva luminosa da graça e do progresso na vida espiritual e na santificação, através das virtudes, como luta contra os inimigos espirituais: contra a tríplice concupiscência, contra o mundo e contra o demônio. Quando pensamos nos novíssimos, somente a perspectiva de uma vida na virtude confere a esperança escatológica, e a luz necessária para compreender bem os ensinamentos da Igreja quanto a essas verdades de fé. Os princípios da vida ascética: vida natural e sobrenatural; queda, castigo, redenção e efeitos; apontam diretamente para a necessidade e para a importância da consciência e da prática das virtudes. O próprio estudo das virtudes é reconhecido na teologia dentro do âmbito da ascese e da mística cristã. Os pecados contra o Espírito Santo encontram a força e a coragem de seu afastamento completo na virtude da Fé principalmente, mas também em todas as demais virtudes teologais e cardeais. Se nos colocamos diante da proposição de uma vida de aprofundamento na espiritualidade e na oração, necessitamos do conhecimento e da prática de todas as virtudes: por isso fala-se do aspecto místico e prático das virtudes.  O próprio estudo dos temperamentos humanos, e mais amplamente o aprofundamento no âmbito da psicologia, com o uso de terapias psicológicas, está crivado pela presença e exigência do direcionamento na compreensão e na prática de virtudes humanas, sejam morais ou intelectuais, orientando para os meios, o desejo e a realização de uma vida mais conforme a retidão da busca do bem. Esta mesma realidade integralmente se aplica ainda mais à orientação espiritual e à formação cristã; e também à prática da meditação e da contemplação, e à organização da vida cristã em si; que são meios externos eficazes para crescer nas virtudes cristãs, quando voltados retamente ao fim que se destinam, ou seja, à santificação dos cristãos. Quanto aos meios internos que ajudam alguém a crescer no caminho da santificação: o desejo de perfeição, o conhecimento de Deus e de si, a conformidade com a vontade divina e a oração, sempre e de muitos modos, encontram-se permeados pela presença das virtudes. De todas as maneiras nossa vida cristã está revestida e envolvida pelas virtudes.


domingo, 1 de agosto de 2010

Obediência, Virtude Cristã



 “Obediência: é a virtude pela qual se reconhece pela ordem do direito natural e do divino, a retidão e a excelência do mando de uma autoridade superior [Sum. Theo. II-II,q.104,a.1,c].”[1] “Factus obediens usque ad mortem, mortem autem crucis”(Fl 2,8) “Feito obediente até à morte, e morte de cruz”

Etimologia

Obedecer, segundo o latim, seria “ob-audire”, isto é, “ouvir àquele que fala”. Provém do grego: hypakuo, estar à escuta; peithomai, deixar-se persuadir, confiar ou fiar-se. Essa definição etimológica sugere que só é possível ser obediente, quando nos dispomos a ouvir atentamente àquele que nos fala.” [2]
Aspecto teológico-ascético
“Escuta, filho”(Pr 1,8). A obediência é, antes de tudo, uma atitude filial. É aquele tipo particular de escuta que só mesmo o filho pode prestar ao pai, por está iluminado pela certeza de que o pai só pode ter coisas boas a dizer e a dar ao filho; uma escuta embebida naquela confiança que permite ao filho acolher a vontade do pai, certo de que esta será para o bem. Isto é imensamente mais verdadeiro em relação a Deus. Com efeito, nós atingimos a nossa plenitude somente na medida em que nos inserimos no desígnio com que Ele nos concebeu em seu amor de Pai. A obediência é, portanto, o único caminho de que dispõe a pessoa humana, ser inteligente e livre, para realizar-se plenamente. Quando diz “não” a Deus a pessoa humana compromete o projeto divino e diminui-se a si mesma, destinando-se ao fracasso.
A obediência a Deus é caminho de crescimento e, por isso mesmo, de liberdade da pessoa, uma vez que permite acolher um projeto ou uma vontade diferente da própria que não só não mortifica ou diminui, mas que funda os alicerces da dignidade humana. Ao mesmo tempo, a liberdade é, em si, um caminho de obediência, pois é obedecendo como filho ao plano do Pai que a pessoa que crê realiza o seu ser livre. È claro que, una tal obediência exige de reconhecer-se como filho e de alegrar-se em ser filho, posto que somente um filho e uma filha podem entregar-se livremente nas mãos do Pai, exatamente como o Filho Jesus, que se abandonou nas mãos do Pai. E se, durante a sua paixão, entregou-se também a Judas, aos sumos-sacerdotes, aos seus flageladores, à multidão hostil e aos que o crucificaram, Ele só o fez porque estava absolutamente certo de que tudo encontrava um significado na fidelidade total ao desígnio de salvação querido pelo Pai, a quem, como recorda são Bernardo, “não foi a morte que agradou, mas sim a vontade d”Aquele que, espontaneamente, morria”.
À escuta segue a obediência como resposta livre e libertadora do novo Israel à proposta do novo pacto; a obediência é parte da nova aliança, aliás, é o seu distintivo característico. Por conseguinte, ela só pode ser compreendida completamente dentro da lógica do amor, da intimidade com Deus, da pertença definitiva Àquele que nos torna, finalmente livres. A obediência própria da pessoa que crê, é, pois, a adesão à Palavra com a qual Deus se revela e se comunica a si mesmo e, através da qual, renova a cada dia a sua aliança de amor. Daquela Palavra brota a vida que continua sendo transmitida a cada dia. A pessoa de fé procura, por isso, a cada manhã, o contato vivo e constante com a Palavra que naquele dia é proclamada, meditando-a e guardando-a no coração como um tesouro, fazendo dela a raiz de cada ação e o primeiro critério de cada opção. Ao fim do dia, confronta-se com ela, louvando a Deus como Simeão por ter visto o cumprimento da Palavra eterna dentro das pequenas vicissitudes do próprio cotidiano (cf. Lc 2,27-32), e confiando à força da Palavra o que ainda permanece incompleto. De fato, a Palavra não trabalha apenas de dia, mas sempre, como ensina o Senhor na parábola da semente (cf. Mc 4,26-27).
A frequência cotidiana, amorosa à Palavra educa para descobrir os caminhos da vida e as modalidades pelas quais Deus quer libertar os seus filhos; alimenta o instinto espiritual para as coisas que agradam a Deus; transmite o sentido e o gosto pela sua vontade; dá a paz e a alegria de permanecer na fidelidade a Ele, tornando-nos sensíveis e dispostos para todas as expressões da obediência: ao Evangelho (Rm 10,16; 2 Ts 1,8), à fé (Rm 1,5; 16,26), à verdade (Gl 5,7; 1 Pd 1,22).”[3]
“A obediência funda-se no supremo domínio de Deus e na submissão absoluta que lhe deve a criatura. Portanto, na pessoa do legítimo superior se obedece a Deus, pois como ensina São Paulo, todo poder vem de Deus. (Rm 13,1) Assim, quem resiste à autoridade, resiste ao mesmo Deus (Rm 13,2). A virtude da obediência é menos perfeita que as virtudes teologais que têm diretamente a Deus por objeto, e, por parte de seu objeto, a obediência também é inferior a algumas das virtudes morais. Mas por parte do que se sacrifica ou se imola ante Deus é a primeira e mais excelente das virtudes morais, já que pelas demais se sacrificam bens exteriores (pela pobreza), corporais (pela castidade) ou certos bens da alma inferiores à própria vontade, que é o que se imola e sacrifica no exercício da virtude da obediência (1 Rs 15,22). Assim, esta virtude transforma os nossos atos ordinários em virtuosos, verdadeiros sacrifícios. Depois da virtude da Religião a Obediência é a virtude que mais nos une a Deus, pois a nossa vontade própria é o maior obstáculo à nossa união com Deus. Assim, ela coincide e coopera com a Caridade, que produz, antes de tudo, a união das vontades. Enquanto a caridade age positivamente na nossa santificação unindo, a obediência age negativamente, removendo o principal obstáculo, a vontade própria. Ademais a Obediência é a mãe e guarda das virtudes.
Os Graus de Obediência: Primeiro, exige-se, obviamente, de todo cristão a observância fiel dos mandamentos de Deus e da Igreja, dito isso passemos aos graus de obediência:
1.Simples execução exterior: Observar as ordens dos superiores legítimos com diligência, pontualidade e espírito sobrenatural. Tem pequeno valor. É suficiente para não quebrar um voto de obediência.
2. Submetimento interno da vontade, ainda mesmo nas coisas custosas, contrárias à inclinação; as almas que a praticam neste grau, fazem-no de todo o coração, sem se queixar, sentem-se ditosas por, a exemplo de Jesus Cristo e unidas a Ele fazer em tudo a vontade do Pai. Valor intrínseco do sacrifício da obediência. O mérito é tal, que se pode, por obediência, renunciar a qualquer ato virtuoso. Com a obediência se aperfeiçoa o livre arbítrio.
3.Submissão do juízo interior. É a perfeita e inteira oblação de si, em que se oferece além da vontade, o entendimento. Vejamos alguns dos traços de sua natureza:
É possível, pois a vontade pode influir sobre o entendimento;
É justa, pois é razoável dar uma regra reta ao juízo e conformar sua vontade com a de Deus;
É necessária para fazer a subordinação perfeita, para preservar das ilusões do amor próprio, para que fique tranquilo o que obedece, para conservar a união; é perfeita, pois o homem imola o que é mais excelente, completa o holocausto, implica uma admirável vitória. Esta sujeição completa não implica que não se possa, se parecer conveniente, expor humildemente ao superior, de maneira indiferente, sem ser levado pelo amor ou juízo próprio, as razões que pudessem fazê-lo ordenar de outra forma.
Principais qualidades da Obediência: A obediência para ser perfeita deve ser: Sobrenatural na intenção, universal na extensão e inteira na execução. 1º Sobrenatural na intenção: Deve-se ver o próprio Deus nos superiores, já que estes não têm autoridade senão por Ele. Deve-se estar persuadido de que se deve fazer na obediência “a vontade de Deus de coração e com boa vontade, como quem serve ao Senhor, e não a homens” (Ef 6, 6-7). A obediência deve estar informada pela Caridade, esta deve ser a vida daquela, bem como de todas as outras virtudes. Com efeito, isto é o que dá o mérito essencial dos nossos atos virtuosos.
2.Universal na extensão, isto é, devemos obedecer a todas as ordens do superior legítimo, sempre que manda legitimamente, ou seja, contanto que quem manda tenha poder de mandar, e o preceito sirva para unir o nosso espírito com Deus. Sem observar o modo como é ordenado ou que sejam coisas piores. Entretanto se o superior manda algo contrário à lei de Deus é obrigação negar-se a obedecer. (At 5, 29).
3.Inteira na execução, e por conseguinte, pontual, sem restrição, constante e até alegre. Pontual, pois o amor, que preside à obediência perfeita, nos faz obedecer prontamente. Ama-se o preceito; a Cristo não se faz esperar! Sem restrições, sem seleções, obedecer em todas as coisas. Caso contrário perde-se o mérito, não é uma obediência sobrenatural. Alegre – a obediência não pode ser alegre nas coisas custosas se não for inspirada pelo amor. É que efetivamente a quem ama nada é penoso, porque esse tal não pensa no sofrimento, mas naquele por quem sofre. Se se vê Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa de quem manda, como não obedecer alegremente fazendo os sacrifícios que Ele nos pede?
Vantagens da Obediência
Vantagens para a inteligência:
a) Certeza de conhecer e fazer infalivelmente a vontade divina.
b) Certeza do socorro divino (Ex 3, 11-12; Jo 8,29).
c) Certeza de êxito, pois “sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8, 28).
Vantagens para a vontade:
a) É a fonte da verdadeira liberdade. Nada escraviza tanto como o apego à própria vontade.
b) Fonte de fortaleza, para obedecer até o heroísmo é mister ser muito valente.
c) É garantia de perseverança no bem.
Vantagens para o coração:
a) Fonte de paz individual e coletiva.
b) Principio de ordem. Cada coisa em seu lugar: O superior mandando; o súdito, obedecendo. Resultado: a paz. Pois como ensina Santo Tomás a paz é a harmonia da ordem.
c) Ausência de escrúpulos.
Fomos ordenados desde antes da criação à obediência e desde quando fomos trazidos à existência somos chamados a obedecer sob a autoridade de Deus, através da lei natural, dos nossos pais, a partir do batismo, através da Igreja, da fé, do evangelho, dos ministros sagrados, etc., e ainda, através dos superiores na escola, no trabalho, enfim, a obediência sempre nos é necessária, seja ela natural ou sobrenatural. E fora dela só há desordem e pecado. Lembremo-nos da desobediência de nossos primeiros pais, que, como toda desobediência, inverteu a ordem das coisas, de Deus – por quem e para quem foram feitas e ordenadas todas as coisas – para as criaturas. Pecado que provocou a desordem das nossas faculdades, as inferiores, vegetativas e sensitivas tendem a escapar ao império da razão e da vontade, provocou ainda a perda dos dons preternaturais, da vida da graça e atraiu sobre nós a ira divina, a sua rigorosa justiça. Mas não nos esqueçamos também que Deus, na sua misericórdia, nos enviou um Salvador que veio, com a cooperação e obediência, com o fiat – faça-se – de Maria, a nova Eva, para reparar a desobediência original e as nossas desobediências atuais, perdoar nossos pecados, restabelecer a ordem das coisas para Deus, e que ao entrar no mundo disse: “Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10,9) e não nos esqueçamos também que é, portanto, por esta vontade de Deus, cumprida na obediência perfeita, isto é, vontade humana e divina unidas no amor, que somos santificados mediante a oblação de Cristo feita uma vez por todas. (Hb 10,10).
O Redentor, pois, ao assumir a humanidade, em tudo como nós, exceto no pecado, em toda sua vida terrestre nos dá o perfeito exemplo de obediência. Portanto, é unidos a Cristo, pela graça santificante, sustentados com seus auxílios e seguindo seu exemplo que todos nós nos santificaremos, ordenando tudo para Deus, nos servindo de tudo senão na medida em que Deus pede de nós e na medida em que nos conduza a Ele, que é o fim último do homem, sem o qual este não pode alcançar sua felicidade.
E estejamos convencidos de que não há outra maneira de bem formar-se nesta virtude senão praticando a Humildade, a Mansidão, a Justiça e a Caridade, vendo Deus nos superiores, buscando razões em favor das ordens mandadas, aceitando o ordenado às cegas, sem mais inquirir, persuadindo-se das verdades a respeito desta virtude e buscando sinceramente fazer em tudo a vontade d´Aquele que é infinitamente mais sábio, bom, justo e poderoso do que nós, para que assim como Cristo, levado até à cruz pela obediência e pelo amor ao Pai sigamos o caminho da obediência que leva à Cruz fora da qual não há salvação, nem santidade. E que se cumpram na vida de cada cristão as palavras da oração que o divino Mestre nos ensinou: “Seja feita a vossa vontade”. “[4]
“A partir da fé que o Cristianismo nos inspira a viver, aprendemos que o Sacrifício de Jesus nasce de uma perfeitíssima obediência ao Pai. E provocados pelo universo dos latinos, aprendemos que sacrifício é um sacro-facere, isto é, um “fazer sagrado”, uma ação sagrada… Para os latinos, portanto, sacrificar é tornar sagrada uma ação ou realidade. É a partir deste sentido etimológico que nossa fé compreende que Jesus é o Grande e Único Sacrifício por excelência, pois tudo o que realiza recebe as cores da sacralidade. E esse movimento só o é possível, porque Ele é atualização da obediência. Mas qual é de fato a relação entre sacrifício e obediência? Se nos permitirmos ir lá no Antigo Testamento tudo tornar-se-á mais claro. Em 1Sm 15, 12b, encontramos por exemplo, “que a Deus a obediência é mais agradável que o sacrifício”. Neste contexto, o sacrifício eram de animais. Ali o povo parecia ter perdido ou pouco compreendido a natureza da obediência e do sacrifício. Na Nova Aliança, Jesus vem resgatar essa perda. Agora não precisamos mais de Sacrifícios e holocaustos. Ele é o próprio Cordeiro a ser imolado, pois “sendo de condição Divina, assumiu a condição dos homens, e sendo exteriormente reconhecido assim, humilhou-se ainda mais tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8). Jesus se faz assim, porque aprendeu do Pai e quis nos ensinar que o Sacrifício é gerado no seio da obediência. Sobretudo o sacrifício das nossas vontades, pois diante delas a obediência vale mais que o sacrifício. E nós embora limitados, devemos ser a continuidade desta relação. Trazemos na alma a vocação de ser o desdobramento dessa perfeita obediência, de modo que, não podemos querer sacralizar nossas ações, ambientes e pessoas sem antes sermos em tudo obedientes. Não se pode pretender povoar nossos espaços com gestos e ritos sagrados sem antes nos recordar que devemos “ser submissos e obedientes aos que nos guiam, pois eles tem a missão de velar por nossas almas e delas devem dar conta” (Hb 13, 17a). Ainda que essa linda semeadura nos exija um profundo esforço, ela porém, nos fará colher bons frutos. Frutos com sabor de salvação e santidade. Que portanto, sejamos obedientes e nos disponhamos a começar este fascinante cultivo!”[5]
“Os cristãos procuraram colocar-se em situação reverente ao Espírito de Deus de duas maneiras fundamentais: diretamente ou mediante intermediários. São Boaventura tentou apresentar a visão da obediência segundo o Espírito de Cristo numa estruturação teológica. Considera que a perfeição da obediência depende do grau de amor caritativo que lhe serve de fundamento. A obediência é perfeita quando expressa a caridade e com esta se identifica. Na proporção em que a alma se purifica pascalmente, à medida que ela se transforma no Espírito de Cristo, segundo o grau de participação na vida divina caritativa, tem também a possibilidade de intuir os desejos do Pai, de se elevar com obediência imediata até seus sentimentos e seus desejos. Esta concepção espiritual, baseada no ato de fé, mais do que deter-se no superior que representa o Senhor, tenta chegar diretamente ao Pai mediante o Espírito de Cristo, embora ordinariamente isto só seja possível através do diálogo com os irmãos (sobretudo com o superior) e a serviço do bem da comunidade. Assim como são Boaventura é o teólogo mais eminente sobre a obediência como adesão imediata a Deus em Cristo, santo Tomás o é da obediência como adesão a Deus mediante o preceito do superior. Para santo Tomás, o critério da obediência perfeita depende da presença do mandamento ou ordem e de sua completa execução (8. Th. II-II, q. 104, a. 4). A atenção primordial não se dirige tanto ao intuito de superar o preceito humano para concentrar-se na palavra do Senhor, quanto ao de considerar o modo de acolher e de executar o preceito. Isto pode ser feito com dupla modalidade de perfeição; primeiramente, executando seu conteúdo por ter sido mandado; não por causa de seu aspecto prudencial, mas por causa de sua forma imperativa (8. Th. II-II, q.; 104, a. 2); então, o obediente implicitamente acata a autoridade enquanto prescreve determinadas ações; em segundo lugar, pode-se expressar o ânimo obediente mais perfeito ainda, quando o súdito se empenha em obedecer ultrapassando o âmbito comum; quanto mais extensivamente a pessoa aceita ser súdito, mais perfeito é na obediência (8. Th. II-II, q. 104, a. 5 ad 3). O perfeito obediente mostra-se disposto a deixar-se mandar em tudo pelo superior, sem pôr limites a sua competência legítima. A perspectiva tomista não é propriamente a da fé, porém uma consideração teológica sobre o exercício da obediência como virtude moral. Como consequência, Santo Tomás pede que o súdito proceda, inclusive na obediência, avaliando a bondade do que lhe é mandado, assumindo a responsabilidade crítica, expressando a presença pessoal digna. “A pessoa, assim como está obrigada a proceder segundo seu próprio conselho em todas as suas ações, também deve fazê-lo em atitude de obedecer ao superior” (S. Th. II-II, q. 104, a. 1.ad 1). Santo Tomás intuía facilmente que, ao fundamentar a obediência não no Espírito de Cristo, mas primeiramente no mandamento ou ordem dos superiores, podia-se dar lugar a não raros abusos: a autoridade pode sentir a tentação de impor a adesão a uma visão inadequada de valores aos subordinados às suas ordens, de exigir a aceitação absoluta de algumas propostas em si contingentes, de obrigar a considerar como vontade de Deus certos preceitos puramente humanos, de fazer aceitar como sagrada a ordem existente impedindo qualquer tipo de contestação e de evolução. O súdito tem de ser colaborador criticamente responsável ao lado da autoridade, junto com ela, a fim de promover a verdade e o bem comum.”[6]
Aspecto Místico

 “O contato com o Mistério soberano é sempre contato com o Outro, com uma vontade que, às vezes, é dramaticamente diferente da nossa. Obedecer a Deus significa, pois, entrar em “outra” ordem de valores, captar um sentido novo e diferente da realidade, experimentar uma liberdade impensável, chegar às portas do mistério: “Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus, oráculo do Senhor. Tanto quanto o céu acima da terra, assim estão os meus caminhos acima dos vossos, e meus pensamentos distantes dos vossos” (Is 55,8-9). Pode-se incutir temor este ingresso no mundo de Deus, mas esta experiência, a exemplo dos santos, pode mostrar que aquilo que é impossível para o homem é possível para Deus, transforma-se em momento característico para uma experiência autêntica do divino, experiência de obediência ao Mistério de um Deus que é, ao mesmo tempo, “interior intimo meo” (“Tu estavas mais dentro de mim do que a minha parte mais íntima”: Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11) e radicalmente outro. Não estamos sozinhos neste caminho: somos guiados pelo exemplo de Cristo, o amado em quem o Pai pôs suas complacências (cf. Mt 3,17; 17,5), Aquele que nos libertou graças à sua obediência. Ele é quem inspira a nossa obediência, a fim de que se cumpra, também através de nós, o desígnio divino da salvação. N”Ele, tudo é escuta e acolhimento do Pai (cf. Jo 8,28-29), toda a sua vida terrena é expressão e continuação daquilo que faz o Verbo desde a eternidade: deixar-se amar pelo Pai, acolher incondicionalmente o seu amor, até chegar ao ponto de nada fazer por si mesmo (cf. Jo 8,28), mas cumprir sempre o que agrada ao Pai. A vontade do Pai é o alimento que sustenta Jesus na sua obra (cf. Jo 4,34) e que rende a Ele e a nós a superabundância da ressurreição, a alegria luminosa de entrar no coração de Deus, na fileira beata dos seus filhos (cf. Jo 1,12). Por esta obediência de Jesus é que “ todos se tornarão justos” (Rm 5,19). Ele a viveu também quando essa lhe apresentou um cálice difícil de beber (cf. Mt 26,39.42; Lc 22,42), e se fez “obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8). É o aspecto dramático da obediência do Filho, envolta num mistério em que jamais poderemos penetrar totalmente, mas que é, para nós, de grande relevância por revelar-nos ainda mais a natureza filial da obediência cristã: somente o Filho, que se sente amado pelo Pai e o ama, por sua vez, com todo o seu ser, pode chegar a este tipo de obediência radical.
O cristão define-se, a exemplo de Cristo, como um ser obediente. A primazia indiscutível do amor na vida cristã não pode fazer esquecer que tal amor adquiriu um rosto e um nome em Cristo Jesus e se fez Obediência. A obediência, portanto, não é humilhação, mas verdade sobre a qual se constrói e realiza a plenitude do homem. Quem crê, por isso mesmo, deseja tão ardentemente cumprir a vontade do Pai que dela faz a sua suprema aspiração. Como Jesus, deseja viver desta vontade.” [7] “A experiência pascal de Cristo manifestou não só sua adesão à vontade divina, como também um modo de se converter em espírito ressuscitado e de poder introduzir-se desta forma na vida divina de caridade (Jo 10,17-18), para conhecer assim a vontade do Pai dentro da intimidade confidencial. A vida de obediência de Cristo oferece-se como modelo para todos os homens; obediente é quem participa do mistério pascal do Senhor para se tornar capaz, desta forma, de conviver caritativamente com o Pai, e de aprender a conhecer assim seus desejos e vivê-los com amor.”[8]

Aspecto prático

“Jesus, em sua vida e em seu Evangelho, evidenciou o cerne da obediência perfeita; apontou o autêntico sentido profundo da obediência cristã. Lembrou que a observância dos preceitos só é cristã quando tende, de alguma maneira, a aderir à palavra do Pai; explicou qual é o critério espiritual primordial para avaliar a autoridade e os súditos; recordou que não existe obediência evangélica quando não expressa caridade para com o Pai. Na comunidade eclesial procurou-se indicar e experimentar até que ponto era possível harmonizar o espírito evangélico de obediência com a situação de crentes implicados em assuntos terrenos, no emaranhado de normas civis e religiosas, sem ter nunca a possibilidade de se encontrar pessoalmente com o Senhor. Se Jesus assinalou a autoridade-obediência em sua perspectiva utópica de convivência com o Pai, a Igreja reestruturou esta indicação evangélica do Senhor adaptando-a às situações históricas vividas pelo povo crente, povo envolvido nos negócios deste século e privado da intimidade estreita com o Senhor. A comunidade dos crentes deve comprometer-se em meio aos problemas terrenos; deve estimular a praticar regras e ordens humanas; deve mostrar de que maneira e até que ponto deve ser vivido o ensinamento do seu Senhor.
Como interpretou e viveu a comunidade eclesial esta obediência evangélica? Em primeiro lugar, manteve sua fé no ensinamento do Senhor sobre a caridade. Aceitou o dever de tender a viver a obediência de forma ideal como resposta à Palavra, como submissão à vontade de Deus em Cristo, como participação-continuação da obediência do Senhor. A obediência entra na história salvífica somente quando existe maneira de se vincular com Deus em Cristo segundo as indicações da nova aliança; se, de certo modo, é expressão de vida caritativa, que consiste em inaugurar em si mesmo urna coparticipação da vida divina trinitária. Por isso, a autoridade eclesial não se estrutura como ofício que se justifique em si mesmo, mas como epifania da autoridade de Deus em Cristo; como sacramento que põe o próprio superior em situação de escutar imediatamente o Espírito; como carisma que Cristo emprega para a salvação dos homens. A autoridade e a obediência, na comunidade eclesial, estão ancoradas em Cristo (215 3,14) para chegar a Deus Pai (At 6,7; Rm 1,5; 215 1,8).
Esta proposta ideal evangélica de obediência, que a Igreja incute fielmente entre os crentes, não se declara realizável em virtude de compromisso pessoal; não se propõe antes de tudo como dever moral ou ascético. É sempre uma situação que depende de saber como vive a pessoa na vida caritativa, de como se insere no Cristo integral, de como é participante do reino do Pai, de como é pneumatizada no eu de tal maneira que saiba comungar com os outros dentro do amor de Deus. Justamente porque a autoridade-obediência indica a maneira de vincular-se e de viver identificados com o querer íntimo de Deus em Cristo. Porventura pode alguém, com seu próprio esforço, compreender “qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo que supera todo conhecimento” (Ef 3,18-19)7 Para conhecer os pensamentos do Pai e conformar-se com eles, é necessário ser transformado em nosso próprio eu e em nossa própria vida, de maneira que nos convertamos em espírito da mesma maneira que Cristo ressuscitado. “Ninguém conhece as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (lCor 2,11).
De que maneira é comunicado à alma este dom do Espírito, que capacita para obedecer a Deus na própria intimidade? Através da participação no mistério pascal, que se verifica praticamente na recepção dos sacramentos. Já em virtude do batismo, o eu vai adquirindo lentamente transformação radical; converte-se em ser ressuscitado, qualifica-se como espírito, torna-se uniforme com a vida divina caritativa, adquire capacidade para estar em união de intimidade com o Senhor. E, à medida que o eu vai sendo pneumatizado em virtude do mistério pascal do Senhor, ele tem a possibilidade de obedecer em sintonia com os desejos do Pai, segundo o espírito caritativo, em união com a vontade divina. O mistério pascal de Cristo, comunicado à alma, confere a capacidade ou a possibilidade de realizar a obediência cristã segundo o espírito filial do Senhor Jesus. Neste sentido, a espiritualidade tradicional afirmou que a obediência com espírito filial ao Pai é possível ao crente apenas quando ele se insere na obediência de Cristo Senhor ao Pai.
Como o crente na terra jamais é completamente transformado em sentido pascal, não ressuscitou de todo, nunca está totalmente pneumatizado, jamais possui definitivamente a caridade completa, sua obediência está sempre fundamentalmente retida pela vontade da autoridade mundana; ora, por viver no Espírito de Cristo, tem que mostrar em cada um de seus atos obedienciais certa intenção dirigida a Deus em Cristo; em cada uma de suas adesões ao superior terreno, tem que saber remontar ao contato pessoal com o Senhor; no cumprimento das disposições humanas, tem que tentar descobrir o plano divino.
De fato, entre os cristãos, este esforço de obediência cristã realizou-se de diversas maneiras em sua forma inicial. Podemos indicar algumas intenções, obediências que os próprios apóstolos sugeriam aos fiéis da Igreja primitiva. Algumas vezes convidam-nos a se elevarem com o pensamento e com o coração ao Senhor Jesus, de maneira que obedeçam diretamente a ele como ao Filho do Altíssimo: “Submetemos todo entendimento à vontade de Cristo” (2Cor 10,5). Deixa-se de lado toda autoridade humana para poder encontrar-se unicamente com a do Senhor. Outras vezes, parte-se do reconhecimento da presença válida do superior humano e de seus mandamentos; acolhem-se com respeito esses mandamentos terrenos, mas com espírito de fé eles são vistos como se fossem ditados por Cristo, como se fossem preceitos utilizados por Deus para comunicar-se conosco, como se a face do Senhor se apresentasse sob a do superior terreno. “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como se fosse o Senhor...; servos, obedecei a vossos senhores temporais com temor e respeito, com simplicidade de coração, como a Cristo” (Ef 5,22; 6,5). Em outras circunstâncias adverte-se os fiéis que têm que permanecer dentro da obediência humana (inerente à vida política, social ou familiar), que podem avaliá-la de forma crítica segundo seu raio de capacidade realizadora. Não obstante, até nesta hipótese, os cristãos são convidados a motivar sua obediência no amor ao Senhor, a fim de seguir seu exemplo e testemunhar socialmente de que modo obedece o discípulo de Cristo: “Vivei sujeitos a toda autoridade humana por amor ao Senhor” (1Pd 2,13).
Acontece também muitas vezes que se propõe como obrigatória a obediência por ser virtude social; que se justifica por causa de exigência de bem comum, de ordem pública, de cooperação entre os homens, como respeito as hierarquias constituídas. Percebe-se a ausência de relação intencional explícita com Deus em Cristo. Mesmo, porém, nesta hipótese, aceita-se a obediência enquanto implicitamente é considerada como virtuosa, já que objetivamente pode referir-se aos deveres exigidos pela ordem providencial divina, já que Deus quer que entre os homens exista a autoridade com vistas ao bem comum. “Servos, submetei-vos com todo respeito aos senhores, não só aos bons e indulgentes, como também aos violentos, pois é louvável que alguém suporte aflições, sofrendo injustamente por amor de Deus” (2Pd 2,18s). Segundo as diversas situações sociais e eclesiais e o grau de formação espiritual dos indivíduos, foram sugeridas na comunidade eclesial diferentes modalidades de praticar a única obediência cristã evangélica.
A obediência cristã caritativa vai-se esboçando segundo modalidades nem sempre conscientemente claras, entre outras coisas porque não aparece como realidade distinta, como dom exclusivamente carismático. E chamada a apresentar-se e a estruturar-se no interior e através da experiência humana das relações sociais e culturais existentes. Como a Palavra de Deus se comunica mediante palavras humanas; como o Filho de Deus vem conviver com os homens assumindo a carne mortal; como a vontade salvífica do Pai em Cristo se expressa através da sacramentalidade da Igreja; como o amor caritativo do Espírito se difunde através dos modos humanos do amor, assim também a obediência caritativa em Cristo e com Cristo ao Pai entre os irmãos se oferece como fermento no interior das maneiras humanas de obedecer.
A obediência caritativa cristã é chamada a encarnar-se nas diversas faces históricas culturais da obediência humana. Entre os homens alternam-se várias formas de humanismos; estabelece-se variada riqueza expressiva de modalidades autorizadas e de submissão; configura-se novos aspectos nas relações sociais ou hierárquicas; esboça-se uma evolução histórica nos modos de viver virtuosamente na obediência. Tudo isto é um aspecto do humano que a caridade evangélica deve assumir para oferecê-lo redimido aos homens. Quando os cristãos assumem o estilo cultural do tempo a propósito das relações sociais de autorida-de-submissão e sabem redimi-lo testemunhando com isso espírito evangélico, eles desenvolvem um carisma a serviço da Igreja. É próprio da missão evangelizadora da Igreja assumir o humanismo cultural histórico, a fim de expressar nele e através dele a força renovadora do acontecimento salvífico. Desta maneira, “a vida cristã se acomodará à índole e ao caráter de cada cultura e se incorporarão à unidade católica as tradições particulares, com as qualidades próprias de cada família de povos, ilustradas com a luz do Evangelho” (AG 22). A inculturação da obediência caritativa atesta que o Senhor é inesgotavelmente rico em sua intimidade amorosa com o Pai e pode permitir à sua Igreja participar de suas núpcias místicas através das mais diversas experiências humanas. E, ao mesmo tempo, permite à Igreja denunciar criticamente os modos culturais de autoridade-obediência vividos na sociedade atual, testemunhando profeticamente nela que semelhante experiência cultural poderia ou deveria ser vivida de modo evangélico.
A inculturação demonstra à Igreja que ela não se pode deter numa missão evangelizadora que seja definitiva. O mundo se encontra em contínua renovação de sua tensão humanista e a Igreja tem consciência de que sua missão se desenvolve dentro de balizas sucessivas, com paciente longanimidade, aderindo com sentido realista às situações históricas culturais, comprometendo-se com as visões humanas para redimi-las, revivendo continuamente o mistério pascal do Senhor. Seria humana e cristãmente fatal enquadrar a vida dos fiéis dentro de uma ordenação fixa relativa à prática virtuosa da obediência; seria alienar sua disponibilidade de ler e valorizar a experiência espiritual em devir, anular sua criatividade cultural, impor aos acontecimentos um sentido pré-constituído, limitar a realidade a um sentido único, mostrar a espiritualidade cristã reduzida a monotonia asfixiante. Ora, a própria virtude cristã da obediência está interessada em saber interpretar, ler e renovar a realidade concreta, em despertar a criatividade e a inventiva, que suscitam continuamente novas formas de bem.
Por outro lado, historicamente a prática da obediência cristã nunca foi concebida de maneira a-histórica, fora de contexto cultural concreto. Sempre foi o aspecto de um conjunto harmonizado de valores existentes numa época determinada, o reflexo de determinado modo espiritual de viver dominante numa igreja particular. Em geral, tende-se a absolutizar o sentido de autoridade-obediência tal como se procurou transmiti-lo ou foi ministrado e recebido durante a educação da adolescência. Por causa desta tendência a absolutizar, sempre que muda o contexto sociocultural espiritual suscitam-se crises. Surge a tendência a pensar que se rejeita o próprio princípio de autoridade-obediência, e não somente uma de suas formas culturais. Isso também porque a comunidade eclesial não se mostra disposta e oportuna para testemunhar a atuação evangélica profética da nova forma de autoridade-obediência. E tudo isto gera desorientação espiritual. Não poucas vezes a desobediência ou contestação juvenil é repulsa da inculturação antiquada com que se apresenta a virtude da obediência, mais do que o esquivar-se à vida virtuosa obediente. Os nomes das virtudes continuam sem variar, porém seu conteúdo experimenta constante modificação. Quem vê as coisas de fora tem a impressão de que a vida espiritual é um setor terrivelmente fixado uma vez para sempre, vinculado a alguns valores pormenorizadamente impossíveis de serem superados. No entanto, o certo é que a vida espiritual está profundamente sujeita ao devir sociocultural-eclesial.”[9]

Pecado contrário à virtude da obediência: desobediência e falsificações da obediência

Falsificações da Obediência:
Sem chegar aos excessos da franca e formal desobediência, que é o pecado diametralmente oposto à obediência, há vários modos e maneiras de deformar esta virtude.
Eis as principais:
1) Obediência rotineira: Puro automatismo, sem espírito interior.
2) Obediência sábia: sempre com o código canônico, a regra ou regulamento na mão para saber até onde está obrigado a obedecer ou onde começa a exceder-se o superior.
3) Obediência crítica: se obedece por ser o superior, mas ao mesmo tempo em que o critica.
4) Obediência mumificada: não se tem ocasião de praticá-la, porque o superior não se atreve a mandar ou porque o súdito se subtrai habilidosamente de ter que obedecer.
5) Obediência pseudomística: Se desobedece ao superior sob pretexto de obedecer ao Espírito Santo.
6) Desobediência camuflada: é a arte de conduzir habilmente o superior, à força de escusas e objeções, a retirar ou modificar suas ordens.
7) Obediência paradoxica: é a que se pretende obedecer fazendo a própria vontade, ou seja, impondo-a ao superior.
8) Obediência farisaica: que entrega uma vontade vencida, mas não submissa.
9) Espírito de oposição: grupos de oposição ao que ordene ou disponha o superior. É espírito satânico que semeia a divisão e a discórdia.
10) Obediência egoísta: inspirada por motivos de interesse; para atrair a simpatia do superior e obter dele cargos ou mandatos que se enquadrem aos gostos e afeições pessoais.
11) Obediência murmuradora: a que aceita de má vontade a ordem de um superior e murmura interiormente.... E às vezes exteriormente, com escândalo dos demais e dano manifesto ao bem comum.
12) Sabotagem e falta de perfeição ao executar a ordem. Por exemplo: Varrer consistirá em mudar o pó de lugar e fazer meditação, em cochilar docemente.
13) Obediência indolente ou preguiçosa: não faz... Por falta de tempo, por causa das ocupações, mil desculpas! E quando faz, faz mal feita.[10]
“Opõe-se à virtude da obediência a desobediência [Sum. Theo. II-II,q105,a1,c].”[11] “A desobediência é tão culpável como a superstição, e a insubmissão é como o pecado da idolatria (1Sm 15,22-23). É por isso que São Tomás de Aquino classifica a “piedosa vontade própria” entre as faltas muito graves, porque, sob a aparência do culto divino e da obediência, ela faz exatamente o contrário. A culpa formal da desobediência consiste precisamente na falta de respeito, no desprezo da autoridade, razão por que São Tomás de Aquino classifica a desobediência entre os pecados mortais. Mas acrescenta que quase sempre se limita a uma desobediência material (cf Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino II-II, 105). O que é que se entende aqui por “formal” e “material”? Se o motivo pelo qual o pecador transgride um mandamento, se revela claramente como o desejo de um outro bem, chamamos a isto “obediência material”. Não é um pecado mortal contra a obediência, embora possa sê-lo contra outra virtude. Os adúlteros, por exemplo, cometem um pecado grave contra o sexto mandamento, mas não contra a obediência. Porém, a obediência cuja intenção é expressar revolta e desprezo da autoridade, chama-se “desobediência formal” e é pecado grave. Quando os espíritos infiéis se revoltaram contra Deus, não pensavam encontrar a felicidade fora da vontade divina; a sua “felicidade” consistia unicamente em lançar contra Deus todo o seu desprezo pelas palavras “Não servirei!”. Também acontece, até com frequência, que alguém se submete e “obedece” exteriormente (materialmente), mas no seu interior critica e despreza os superiores. É claro que, por isso mesmo, peca formalmente contra a obediência. Sem humildade é difícil evitar este erro, porque só a humildade nos dispõe a ter respeito para com os superiores. A obediência de Cristo é considerada como a antítese exata da desobediência de Adão: Assim como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só todos virão a ser justos (Rm 5,19; cf. 1Cor 15,22). Também o hino da epístola aos Filipenses tacitamente contrapõe a obediência de Cristo “até a morte, e morte de cruz” à desobediência de Adão que quis ser “igual a Deus” (cf. Fl 2,6ss.). Na origem de todas as desobediências está uma desobediência a Deus, e na origem de todas as obediências está a obediência a Deus. São Francisco diz que a desobediência de Adão consistiu no apropriar-se de sua vontade: “Come da árvore da ciência do bem e do mal quem se apropria de sua vontade”. Compreende-se, por oposição, em que consistiu a obediência do novo Adão. Ele desapropriou-se de sua vontade, esvaziou-se, aniquilou-se: “Não se faça a minha vontade, mas a tua, orou ao Pai” (Lc 22,42); e ainda: “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6,38). “

Santa Clara e a virtude da Obediência

Escritos de Santa Clara

“A forma de vida da Ordem das Irmãs Pobres, que o bem-aventurado Francisco instituiu, é esta: Observar o santo evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade. Clara, serva indigna de Cristo e plantinha do bem-aventurado pai Francisco, promete obediência e reverência ao senhor papa Inocêncio e aos seus sucessores canonicamente eleitos e à Igreja Romana. E, como no princípio de sua conversão, juntamente com suas Irmãs, prometeu obediência ao bem-aventurado Francisco, assim promete guardá-la inviolavelmente para com seus sucessores.[12]


Depois que o altíssimo Pai Celeste se dignou iluminar o meu coração pela sua graça para que eu fizesse penitência conforme o exemplo e o ensinamento de nosso pai São Francisco, pouco depois da conversão dele, eu lhe prometi obediência voluntariamente, junto com minhas Irmãs.” [13]

Fontes Históricas

“Três dias por semana: na segunda-feira, quarta e sexta, não comia coisa alguma, até que São Francisco lhe mandou que, de qualquer jeito, comesse todos os dias um pouco; então, para obedecer, tomava um pouco de pão com água. Interrogada sobre como sabia disso, disse que o tinha visto e estava presente quando São Francisco lhe deu essa ordem.” [14]

“Então a senhora orou também pela cidade, dizendo: “Senhor, que vos apraza defender também a esta vossa cidade”. A mesma voz soou: “A cidade sofrerá muitos perigos, mas será defendida”. Então a senhora se voltou para as Irmãs e lhes disse: “Não fiquem com medo, porque eu sou a sua garantia de que não vão passar nenhum mal, nem agora nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer os mandamentos de Deus”. Os sarracenos foram embora sem fazer mal ou causar prejuízo.”[15]

“Ela, pedra primeira e nobre fundamento de sua Ordem, tratou de levantar desde o começo o edifício de todas as virtudes sobre a base da santa humildade. De fato, prometeu santa obediência ao bem-aventurado Francisco e não se desviou em nada do prometido.” [16]

“São Francisco mandou a dona Clara um frade enlouquecido, chamado Estêvão, para que traçasse sobre ele o sinal da cruz santíssima, pois conhecia sua grande perfeição e venerava sua grande virtude. A filha da obediência fez sobre ele o sinal, por ordem do pai, e deixou-o dormir um pouquinho, no lugar onde ela mesma costumava rezar. E ele, livre do sono daí a pouco, levantou-se curado e voltou ao pai, liberto da loucura.” [17]

“Pois também o governo das Irmãs pobres, embora o tenha aceitado só obrigada pela obediência, entregava-se mais solicitamente às obras do seu serviço, ainda que fossem desprezíveis e abjetas, humilhando não menos o coração do que o corpo.” [18]

“Dessa forma a humilde discípula de Francisco, já feita mestra das virgens, como aprendera do santíssimo pai, parecia preferir não tanto o estar à frente quando o submeter-se, e não tanto impor às outras quanto carregar o jugo da santa obediência, como raiz de toda perfeição a humildade espontânea e em si mesma pela freqüência do exercício regava e cultivava para ajudar a plantá-la no coração das filhas pela eficácia do bom exemplo.” [19]


[1] www.aquinate.net; A Ética Tomista.
[2] Jerônimo Lauricio. www.jeronimolauricio.com
[3] Instrução da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. O Serviço da Autoridade e a Obediência. Roma, 11 de maio de 2008, nº 5-7.
[4] L. R. Lopes.
[5] Jerônimo Lauricio. www.jeronimolauricio.com
[6] Dicionário de espiritualidade. São Paulo: Edições Paulinas, 1989, p.834-835.
[7] Instrução da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. O Serviço da Autoridade e a Obediência. Roma, 11 de maio de 2008, nº7-8.
[8] Dicionário de espiritualidade. São Paulo: Edições Paulinas, 1989, p.831.
[9] Dicionário de espiritualidade. São Paulo: Edições Paulinas, 1989, p.833.
[10] L. R. Lopes.
[11] www.aquinate.net; A Ética Tomista.
[12] RSC 1, 1-5.
[13] Idem, 6,1.
[14] ProcC 2,8.
[15] Idem 9,2.
[16] LSC 12.
[17] Idem 32.
[18] 1Lm 2, 2.
[19] Idem 2,4.